sábado, 12 de setembro de 2009

Queridos João e Kátia

Farei das palavras o nosso reencontro. Quero que possam compartilhar de tudo o que temos vivido de forma tão intensa que por um instante duvidem de sua própria sanidade sobre quanto tempo estivemos distantes. Não porque tenham nos pedido. É que nos poucos segundos que me tomaram a sua mensagem, foi exatamente assim que me senti. Como se o tempo evaporasse, minhas memórias ficaram tão vívidas que tive até a impressão de poder tocá-los.
O mais impressionante de nossa amizade é que embora não lhes pareça – o que faço questão de provar o contrário – nunca pereceu com o tempo. Tivemos com vocês um relacionamento tão fraterno, amigo, verdadeiro que me parece mais do que amizade, foi um presente. Guardado está em nossos corações como o amor de mãe, consolidado e fortalecido pelo tempo. Em nossos dias corridos e muitas vezes corrompidos pela rotina muito aquém dos sonhos construídos em minha juventude, vocês estão ali, como um capítulo de um grande romance no qual reviramos páginas por páginas na pressa de chegar logo ao reencontro.
Faltam palavras que possam atribuir sentido às recordações que tenho quando volto no tempo. Saudades... é muito pouco para o muito que vivemos. Em inglês talvez fosse mais fácil. I miss you. We miss you. E como. É verdadeiro, sincero, honesto. É viver a nostalgia do cinema.
O corre corre diário é o melhor remédio para as dores da saudade, mas traz o efeito colateral do mal entendido, a impressão de que não se estima aquilo que se estima mais. Não é verdade João. Não é verdade Kátia. A vida transpassa em um ritmo tão frenético que as vezes da mesmo vontade de pedir para parar. Descer na primeira estação. Na estação do tempo onde tudo permanece exatamente como fora um dia. Eu não hesitaria em parar se assim pudesse ser. Ficaria ali estacionada naquilo que me trouxe um dia só alegrias. Não há nada em nossa amizade que teria me feito querer partir.
A vida... Como tem sido a nossa vida? Depois de tanto tempo sem lhes dar notícia fica a dúvida de por onde começar. Entretanto estou determinada a ir até o fim, e fazendo das suas as minhas palavras: “Normalmente concluo os meus projetos”. A partir de agora a meta não é ser sucinta, breve. Não pouparei palavras para lhes interar de tudo, poderá daqui em diante contar seus causos completos e com continuidade!
O casamento prossegue, um dia ou outro difícil, evidentemente. Uns dias e outros maravilhosos como devem ser. Em poucos meses serão 08 anos de casado, uma ótima notícia: a crise dos 07 anos parece estar ficando para trás! Hehehe O filho completará 15 anos em dezembro, e dentre muitas dificuldades e erros, alguns acertos podem ser contados! Marcelo está gigante, tão grande que me faz pensar se não deveria te-lo inscrito em um time de basquete. Ele se recusaria sem dúvidas, tem pavor de crescer, se pudesse seria eternamente pequeno – creio eu que tem medo de não se assemelhar com seus pais tão pequeninos! Estuda em uma boa escola. Na verdade está matriculado em uma boa escola, porque estudar não lhe apetece muito, o que sem dúvidas já era de se esperar dado a sua falta de base. Disciplina também não parece ser o seu forte, natural dos adolescentes. Por vezes não sabemos como agir, mas sejamos francos: quantas foram as vezes que meus pais não souberam como agir comigo. Ser pai não é fácil. Não ter desafios na vida me parece pior.
O trabalho merece um capítulo aparte: A Toca do Gambá cresceu e me orgulha profundamente. Nossa força está nas festas infantis, hoje administro um Buffet completo, com decoração, recreação, salgadinhos e tudo o que uma boa festa requer. As dificuldades são muitas, trabalho absolutamente todos os finais de semana, feriados, e dias da semana também. As folgas são quase nulas, todavia posso ver e contabilizar os resultados. Não João, não estou rica! Seria tão bom se estivesse... ehehe.. Mas tenho colocado as contas em dia. Hoje temos uma marca consolidada em nossa cidade, estamos decididamente entre as melhores empresas no ramo. Temos prestígio, clientes fiéis e muito trabalho a fazer. Várias pequenas reformas foram feitas na área destinada a Toca, uma bela cobertura para a área externa – poupando o jardim que merece todo o meu respeito, brinquedos foram colocados, uma brinquedoteca construída em cada detalhe. Nossas colônias de férias antes novidade já viraram tradição. Janeiro e julho as crianças enchem o ambiente com sua alegria e disposição. Há dias destinados a dormirem em nosso espaço: O tradicional Nana Gambá, que de nana não tem nada, porque colocar crianças para dormir é um desafio nunca ultrapassado!
Os computadores tomaram conta da vida do Martinho definitivamente. Tem muitos clientes, não menos que 400. Todos com um bom conceito, e até que eu saiba muito satisfeitos. Aquele pequeno conhecimento que ele tinha é insignificante perto do que tem hoje, dado a sua longa experiência na área. Sabe muito Kátia, muito mesmo. Tem já 03 funcionários para dar conta do trabalho, e hoje pode se dizer que é um especialista em redes, segurança e implementação de servidor. Palavras pouco explicativas para mim que sou leiga! Em síntese: trabalha para grandes empresas e dá conta do serviço. Por vezes acho até que o velho Martinho se aperfeiçoou tanto na área que se assemelha um pouco com seu objeto de trabalho. Trata de nosso relacionamento como lida com seus fiéis objetos de estudo: os computadores. Desenvolveu uma linguagem tão lógica e concreta que me tira do sério as vezes. Uma cervejinha no final do dia o devolve a realidade.
Cervejinha, vodka... Fazem parte de nosso cotidiano, de forma saudável, posso garantir. Uma baladinha aqui, outra ali. London (acreditem, ele ainda existe), Lounge (uma boa danceteria de frente a Praça do Rosário – próximo a bicota), barzinhos, tudo isso parece nos entreter um dia ou outro. Nessas horas esqueço-me dos 31 anos completos que tenho e me sinto como nos velhos tempos, em plena juventude. Dançamos e farreamos a noite toda. É verdade que chego em casa mais derrubada e destruída pela ressaca do que outrora. O espírito permanece jovem, garanto.
A propósito do “espírito”, devo confessar que é desprovido da idéia religiosa. Sou hoje completamente cética, atéia no literal da palavra. Não creio em deuses, anjos ou demônios, e quanto mais leio (o que faço consideravelmente) mais certa estou de minhas convicções, ou falta de convicções. Tenho ótimas referências de leitura na área João, e teria muito prazer em lhe enviar um exemplar de: Deus, um delírio. Richard Dawkins (o autor) deve ter me conhecido em algum lugar que hoje não posso lembrar, porque comunga de minhas mesmas idéias! Rsrs Não me interpretem de forma errônea, não me tornei uma pessoa má, amarga ou perversa por não crer na existência de um ser superior mal humorado e ranzinza. Só não tenho compactuado com a ignorância que as religiões professam. Estou muito bem assim, e mais caridosa do que nunca, porque o meu amor pela humanidade prossegue infinito.
Faculdades... Dariam um bom texto, tantas foram as que cursei. Acreditem, ainda não formei em nenhuma! Uahauhauhauah Voltando de Londres resolvi pela pedagogia (refrescando a memória, antes foram: administração, jornalismo e direito). Tive muito prazer em aprender sobre o aprender. Se é que isso faz sentido! Adorei estudar os processos de aprendizagem, as técnicas, as idéias, os grandes filósofos da educação. Por um tempo até achei que era amante de Rousseau, podia senti-lo, tinha o prazer de sua companhia ao ler seus deslumbrantes textos na madrugada. Acabou não dando certo, o relacionamento se rompeu pela falta de tempo. Uma pena. Hehehe. Mas tudo bem, vieram outros, e embora a pedagogia se foi (cansei, já compreendi que as faculdades só me entretêm no comecinho, enquanto estou no tesão, na paixão, depois perdem a graça, perco a vontade). Agora tenho pensado com muito carinho na filosofia. Será?! Certamente no meu caso as faculdades são puro hobby. Adoro ler, estudar, aprender e escrever (acho que já podem perceber!).
Leituras têm tomado mais horas dos meus dias do que eu poderia supor. Madame Bovary de Gustave Flaubert fora o último livro lido. Um deleite! O tédio que a personagem vive fez muito sentido pra mim, porque embora possa me considerar feliz não deixo de questionar a monotonia da rotina. Esta não passa despercebida.
Não tenho projetos milionários, esses deixei para o Martinho, que não se dará por satisfeito antes do primeiro milhão. Um milho cozido já me deixa bem satisfeita. Melhor ainda se puder comê-lo nas muitas viagens que planejo. Reservado para esse fim será todo o meu dinheiro. Assim que puder contabilizar uma folguinha financeira quero viajar pelo mundo, e vejam só, a primeira meta, que com toda a certeza será o ano que vem: New York! Antes do fim do ano poderão reservar o meu travesseiro, porque nada me demoverá da idéia de pisar os meus pés onde pisam os seus.
Os cães são as mais formidáveis companhias! Temos quatro, absolutamente fofos: Sofia, uma labradora clarinha em processo de emagrecimento. A obesidade anda lhe causando problemas graves de saúde, o peso do próprio corpo tem sido um fardo a carregar! Pesa 40 quilos, quando muito deveria pesar 25. Gorducha, desengonçada, fantástica! Rodeada de 03 yorkshires pequeninos e leves como a minha consciência, Sofia é a releitura do Patinho feio. Assim ela se sente. Quer pular no sofá como os miniaturas, por pouco não nos quebra a cama quando saltitante se joga sobre ela na tentativa de se assemelhar com seus irmãos peludinhos e pretinhos. Tem uma carinha tão dócil e carente que impossibilita-nos de lhe fazer recusas. Ainda assim tenho certeza que ela se sente como um patinho feio, tão atrapalhada e diferente dos outros. Gostaríamos que soubesse o cisne que é. Caju é a caçula da família, magrela, dada a latidos estridentes. Nas noites de sono gosta de dormir com a cabecinha no meu peito, assim sendo até esqueço-me dos latidos. Duda é gorduchinha e dengosa, requer todo um carinho e cuidado especial, é a mais dependente de todas. Ama-nos com uma intensidade formidável. Se pudesse viveria no meu colo como um filhote de canguru. Engraçado é que não me canso. Se pudesse eu queria ser o canguru. Também dorme na cama, mas tem mais gosto pelos meus pés. Rouba vez ou outra o travesseiro do Martinho quando ele resolve usar o banheiro a noite. Ele volta e se aconchega em qualquer cantinho, falta-lhe coragem de tirá-la do seu conforto. É um pai apaixonado! O Scooby é o único macho da família, fortinho, um pouquinho mais covarde do que poderíamos esperar de verdadeiro macho, mas nem por isso menos amado. Não é um cão muito certo da cabeça, disso não temos dúvidas. Alguns neurônios a menos, não sei. Faz xixi na sua própria comida. Nos computadores dos clientes do Martinho também... Isso tem rendido bons capítulos! Eheheh ... Mas tem o nosso perdão. Amamos loucamente nossos cães. Quando vamos a praia (todo final de ano), vamos com todos. Alguns membros de minha família de nascença não ficam muito satisfeitos, mas nós com certeza ficamos!
Enquanto aqui escrevo, o Martinho me apressa! Quer logo me ver postar essa mensagem, anseia por mais notícias, relembra os velhos tempos e tem tantas saudades quanto acredito que todos nós temos. Disse agora que passa com muita constância de frente a sua casa João, e sente um profundo pesar por estarem tão distantes.
Atendendo ao pedido de meu marido, fruto do relacionamento por vocês testemunhado, nas mãos as alianças presenteadas por nossos melhores amigos, encerrarei aqui esta carta, que levaria 15 dias para chegar a suas mãos se não fosse pela tecnologia que nos provê o arroz e o feijão – já que as compras de comida são responsabilidade do meu técnico pessoal de informática! Posto aqui em meu blog, local de todos os meus devaneios, o meu testemunho, quase um testamento, dedicado a dois amigos pelos quais tenho o amor maior do mundo! A você João, e a você Kátia dedico toda a minha felicidade.

Dos amigos ausentes, com a saudade presente, e pela amizade eterna.

Drica e Martinho

*Sentimos profundamente pelo seu avô. Lembramos de seus causos e fizemos por ele o nosso minuto de silêncio.

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